Entenda o que são os agrotóxicos e quais riscos representam
Saiba mais sobre a utilização desses produtos no Brasil e
quais mudanças prevê o Projeto de Lei 6.299, conhecido como a PL do Veneno
BRASIL, CAMPEÃO MUNDIAL EM CONSUMO DE AGROTÓXICOS
Certamente esse não é um título que desejaríamos para o
Brasil, não é mesmo? Mas infelizmente nosso consumo de agrotóxicos é bastante
alto e as consequências ao meio ambiente e à nossa saúde são preocupantes – e
muitas são ainda desconhecidas.
ANTES DE COMEÇARMOS, ALGUNS NÚMEROS SOBRE OS AGROTÓXICOS
NO BRASIL
Segundo dossiê publicado pela ABRASCO – Associação
Brasileira de Saúde Coletiva e realizado em conjunto com o Ministério da Saúde:
64% dos alimentos no Brasil são contaminados por agrotóxicos; 34.147
intoxicações por esses produtos foram notificadas no SUS entre 2007 e 2014;
288% foi o percentual de aumento do uso dos agrotóxicos no Brasil entre 2000 e
2012 e o faturamento da indústria de agrotóxicos no Brasil em 2014 foi de 12
bilhões de dólares.
Essa realidade nos coloca, desde 2008, na posição de maior
mercado mundial de agrotóxicos.
https://foodsafetybrazil.org/o-que-estamos-comendo-consumo-de-agrotoxicos-pelo-brasileiro/
AGROTÓXICOS
Os agrotóxicos são produtos químicos que alteram a composição da flora e da fauna com o objetivo de evitar que doenças, insetos ou plantas daninhas prejudiquem as plantações.
Até aí, parece uma boa solução: um produto que evita a
danificação de plantações. A grande polêmica, porém, em relação aos agrotóxicos
se deve aos efeitos prejudiciais de sua utilização, representados por doenças,
contaminações e claro, as consequências ainda desconhecidas que podem ser
causadas por eles.
Além disso, a utilização de agrotóxicos gera a dependência
de seu uso para a produção agrícola. Vamos entender todos esses aspectos ao
longo deste texto!
OS AGROTÓXICOS E A REVOLUÇÃO VERDE
A utilização massiva dos agrotóxicos se iniciou na década de
60, na chamada Revolução Verde. Essa revolução foi um movimento pela
modernização da agricultura, com a utilização de máquinas, agrotóxicos e
sementes geneticamente modificadas, tudo isso com o intuito de aumentar a
produtividade.
A partir desse momento, grande parte dos agricultores
brasileiros passaram a utilizar esses produtos, inclusive pequenos
agricultores.
Hoje há uma certa dependência por parte desses produtores,
pois as sementes geneticamente modificadas são desenvolvidas para aceitar
determinados agrotóxicos. Ou seja, ao adquirir essas sementes, os agricultores
se vêem obrigados a comprar o agrotóxico associado.
A NATUREZA E A NOSSA SAÚDE EM RISCO
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, entender o
comportamento dos agrotóxicos na natureza é complexo, já que a seu uso pode
contaminar a água e o solo e seus componentes podem ser levados por meio da
chuva e dos ventos, dificultando a avaliação dos seus efeitos.
Além disso, ao longo do percurso, o agrotóxico sofre
processos químicos, biológicos e físicos, que podem alterar o seu
comportamento.
Isso quer dizer que, se as propriedades desses produtos
podem ser alteradas, as consequências e riscos desses novos subprodutos serão
desconhecidas.
Os agricultores que trabalham com a aplicação desses
produtos e a população que vive próximo às plantações se tornam as mais
vulneráveis, pois estão em contato direto com os produtos. Mas esse risco não
se restringe a eles, toda a população brasileira está exposta à contaminação
quando consome esses alimentos.
Um exemplo de contaminação foi retratado em um estudo da
Universidade Federal do Mato Grosso que verificou a contaminação por
agrotóxicos do leite materno de mães que moravam em áreas urbanas.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, compilados no
Dossiê da ABRASCO, as principais doenças relacionadas à intoxicação por
agrotóxicos são: arritmias cardíacas, lesões renais, câncer, alergias
respiratórias, doença de Parkinson, fibrose pulmonar, entre outras.
Por meio do Programa de Análise de Agrotóxicos em Alimentos
(PARA), a ANVISA identificou os produtos que apresentavam os maiores níveis de
contaminação em 2009, são eles: pimentão, morango, uva, cenoura, alface,
tomate, mamão e laranja.
AGROTÓXICOS NO BRASIL
Segundo a ANVISA, um terço dos alimentos consumidos
diariamente por nós, brasileiros, estão contaminados e dentre esses alimentos
contaminados, 28% apresentam componentes não autorizados ou em quantidade que
excede o limite autorizado.
O Brasil possui uma lei que regulamenta a utilização de
agrotóxicos, chamada Lei de Agrotóxicos nº 7.802/1989. Essa lei é considerada
bastante permissiva se comparada a leis de outros países, como a da União
Europeia, por exemplo. Isso significa que, por aqui, a utilização desses
produtos é muito maior e mais livre que nos países europeus.
Vamos entender isso com alguns dados:
No Brasil, segundo estudo realizado pela geógrafa Larissa
Lombardi, temos 504 tipos de agrotóxico permitidos; desse total, 30% são
agrotóxicos que já foram proibidos na Europa, pois seus riscos a saúde são
comprovados.
Um deles é o acefato, que apresenta efeitos sobre o sistema
endócrino, segundo a ANVISA. Além dos tipos de agrotóxicos, os países também
podem determinar o nível máximo de contaminação da água por esses produtos.
No caso do Brasil, a contaminação da água por agrotóxicos
pode ser 5 mil vezes maior do que o máximo permitido na Europa.
A utilização de agrotóxicos vai gerando cada vez mais uma
dependência em relação a eles, pois como não são respeitados os processos
naturais da produção de alimentos, a utilização desses produtos químicos vai
diminuindo a fertilidade do solo.
Como consequência, o solo fica mais pobre em nutrientes e
aumenta a necessidade de agrotóxicos e adubos químicos. Além disso, como já
mencionamos anteriormente, quando a semente é geneticamente modificada, os
agricultores ficam dependentes de defensivos específicos.
QUAL O POSICIONAMENTO DE ÓRGÃOS RELACIONADOS AO TEMA?
Segundo a Organização das Nações Unidas e a Organização
Mundial da Saúde, os agrotóxicos considerados muito perigosos já têm seu uso
bastante restrito em países desenvolvidos, porém nos países em desenvolvimento,
como é o caso do Brasil, há um uso mais livre desses produtos.
Além disso, nos países em desenvolvimento é mais comum a
aplicação dos agrotóxicos nas plantações sem a utilização de equipamentos de
segurança adequados, expondo os agricultores a um risco ainda maior.
Para essas organizações, existe um grupo de agrotóxicos
considerados altamente perigosos, que são os responsáveis por grande parte das
intoxicações em pessoas.
Esses produtos poderiam ser substituídos por outros menos
perigosos ou por técnicas de manejo integradas, que diminuiriam a dependência
dos químicos. Segundo a Embrapa, essa técnica seria um conjunto de medidas para
diminuir o uso de agrotóxicos, garantindo o equilíbrio das plantas com o
monitoramento de pragas.
Para a ANVISA, novas práticas agrícolas deveriam ser
adotadas, pois o modelo convencional da agricultura objetiva o lucro imediato,
mas não considera os desgastes dos recursos naturais e humanos.
Segundo esta organização, a produção agroecológica pode ser
uma alternativa promissora e para isso seria necessário um período de transição
da produção convencional para esse outro modelo.
O Ministério da Saúde, em seu Relatório Nacional de
Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos, constatou que as
vendas de agrotóxicos aumentaram 90,5% entre 2007 e 2013, enquanto a área
plantada cresceu apenas 19,5%, ou seja, um crescimento desproporcional que
sugere uma maior exposição da população brasileira à contaminação.
Nessa pesquisa foi constatado também que o glifosato é o
agrotóxico mais utilizado no Brasil. O glifosato foi classificado como
provavelmente cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer.
O Instituto Nacional de Câncer – INCA se posicionou a favor
de ações de enfrentamento aos agrotóxicos devido aos riscos que representam à
saúde, especialmente relacionados ao seu potencial cancerígeno.
Segundo essa instituição, espera-se que a regulação e
controle desses produtos seja fortalecida e que práticas alternativas
agroecológicas sejam incentivadas para superar o modelo atual.
POSSÍVEIS SOLUÇÕES
Diante desse cenário, de alto consumo de agrotóxicos pelos
brasileiros, quais seriam, afinal, as alternativas para a produção de
alimentos? Sobre isso, as opiniões são divergentes.
Alguns especialistas afirmam que não seria possível manter a
produtividade de alimentos sem a utilização de agrotóxicos, e é o que pensa
Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo da Embrapa. Segundo ele, no entanto, é
possível diminuir a quantidade desses produtos.
Já Rogério Dias, coordenador de Agroecologia do Ministério
da Agricultura, afirma que existem alternativas biológicas, que são menos tóxicas,
para combater as pragas. Segundo ele são cerca de 140 defensivos biológicos
disponíveis no mercado.
SEGUNDO A ONU, A AGROECOLOGIA É O CAMINHO
Um dos modelos de produção adotados como alternativa hoje é
a agroecologia, que tem como propósito desenvolver um estilo de agricultura
mais sustentável, com uma perspectiva sistêmica da natureza.
A agroecologia não é uma novidade, é a maneira como os
alimentos sempre foram produzidos até a Revolução Industrial, momento em que
cresce a preocupação com a produtividade na agricultura.
Nesse modelo de produção, o uso de fertilizantes químicos é
reduzido ou eliminado a partir da adoção de algumas espécies de plantas na
produção, respeitando à biodiversidade e a rotação de culturas.
Dessa maneira, o solo, não perde os nutrientes necessários
para continuar produzindo alimentos e, portanto, reduz a necessidade da
aplicação de produtos químicos.
Além de ser ambientalmente mais sustentável, segundo um
relatório da ONU, a agroecologia é socialmente mais justa, pois permite que
pequenos agricultores produzam alimentos com um método menos caro que o
industrial.
Mas para que esse modelo se concretize, esse relatório
recomenda aos governos que sejam elaboradas políticas públicas para incentivar
e permitir que a produção agroecológica possa, de fato, ser uma alternativa.
O QUE É O PROJETO DE LEI 6.299/2002?
O Projeto de Lei 6.299/2002 conhecido por PL do Veneno, foi
aprovado em comissão e vai para votação no plenário da Câmara dos Deputados.
Esse projeto de lei busca flexibilizar a utilização dos agrotóxicos no país,
tornando proibidas apenas as substâncias que apresentem “riscos inaceitáveis”.
Além disso, esse projeto propõe a mudança do nome
“agrotóxico” para “fitossanitário”, o que segundo a pesquisadora Aline Gurgel
da Fundação Oswaldo Cruz, tem o intuito de ocultar da população que esses
produtos são tóxicos.
Com o argumento de que essas mudanças podem trazer riscos à
saúde e à natureza, como a contaminação e o empobrecimento do solo e o
desenvolvimento de doenças, as seguintes instituições já se declararam
contrárias a esse projeto: ANVISA, Fundação Oswaldo Cruz, Departamento de
Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (Ministério da Saúde),
Ibama, Instituto Nacional do Câncer, Ministério Público e ONU.
Fonte:
Tire suas dúvidas sobre transgênicos e agrotóxicos
Maior consumidor de defensivos agrícolas do mundo, o Brasil
também é o segundo país em área plantada de produtos geneticamente modificados
Em 2050, a população mundial será de 9,6 bilhões de habitantes,
de acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU). Embora o
crescimento demográfico ocorra em ritmo menor em relação ao registrado nas
décadas passadas, o planeta vai contar com mais 2,4 milhões de habitantes até
lá. Como não restam muitas fronteiras agrícolas, ou seja, novas terras que
podem ser usadas para o plantio, como lidar com a necessidade de aumentar a
produção de alimentos?
Diante dessa questão, a biotecnologia – ramo da ciência que
aplica os conceitos da engenharia genética na geração de novos produtos –
apresenta duas alternativas para aumentar a produtividade agrícola: o uso de
sementes transgênicas e de agrotóxicos. Mas a utilização desses recursos causa
polêmica em virtude de eventuais riscos para o meio ambiente e a saúde humana.
Transgênicos
Transgênicos são Organismos Geneticamente Modificados (OGM),
ou seja, que sofreram uma alteração em seu DNA por meio da engenharia genética
(com a inserção de genes de uma espécie em outra) para ter uma característica
que não possuíam antes. O principal objetivo seria o desenvolvimento de plantas
mais resistentes a pragas e a insetos e o consequente aumento da produção
agrícola.
As culturas transgênicas, principalmente de soja, milho e
algodão, aumentam em todo o mundo. Já são transgênicos 80% da soja e 30% do
milho plantados no planeta. O Brasil é o segundo maior plantador mundial de
sementes transgênicas, atrás apenas dos EUA.
Os críticos argumentam que a transferência de genes de uma
espécie a outra pode provocar a contaminação dos ecossistemas e comprometer a
biodiversidade. Um dos maiores receios é que, numa plantação, sementes
modificadas sejam levadas pelo vento ou pela chuva para áreas de espécies
silvestres, afetando as plantas nativas ou a saúde de animais e, daí,
desequilibrando todo o ecossistema. Além disso, não se conhecem todos os
efeitos colaterais dos transgênicos sobre os organismos animais e humanos.
No Brasil, desde 2003, uma lei federal obriga que os
produtos que levam matéria-prima transgênica, como óleo de soja, fubá e
derivados, tragam no rótulo um “T” preto sobre um triângulo amarelo. No
entanto, em abril de 2015, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que
dispensa a obrigatoriedade do símbolo nos rótulos dos alimentos. O projeto
ainda depende de aprovação no Senado.
Agrotóxicos
O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos – os
produtos (inseticidas, fungicidas e herbicidas) utilizados na agricultura para
controlar insetos, doenças (causadas por fungos, por exemplo) ou plantas
daninhas que causam prejuízos às culturas.
Os agricultores justificam o uso dos agrotóxicos como
indispensáveis para a produção em larga escala. Mas entre os pesticidas
utilizados no país estão alguns potencialmente cancerígenos e que já foram
proibidos em diversos países e na União Europeia, como o glisofato. Segundo
análise por amostragem de alimentos da cesta básica, realizada pela própria
Anvisa na cidade de São Paulo, em 2014, quase um terço deles tinha agrotóxicos
proibidos ou em quantidade acima da permitida por lei. Entre os danos à saúdo
associados ao consumo de alimentos com agrotóxicos estão câncer, infertilidade,
impotência, abortos, malformações fetais, desregulação hormonal e efeitos sobre
o sistema imunológico.
Fonte:
https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/atualidades-vestibular/tire-suas-duvidas-sobre-transgenicos-e-agrotoxicos/
REFLEXÃO
Faça um comparativo sobre as vantagens e desvantagens do uso de agrotóxicos e outras opções como a agroecologia.
REFLEXÃO
Faça um comparativo sobre as vantagens e desvantagens do uso de agrotóxicos e outras opções como a agroecologia.