quinta-feira, 18 de outubro de 2018

VACAS TRANSGÊNICAS EM INTERESSES TERAPÊUTICOS

Brasil entra na era do boi transgênico 

Proteínas para hemofilia

Um projeto importante na transgenia começou em 2000, sob a coordenação da pesquisadora Sharon Lisauskas, de 36 anos, que trabalhou na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), em Brasília, e hoje está na área de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação. 

“O projeto objetiva expressar a molécula do fator IX no leite do animal com o objetivo de ajudar o ser humano que sofre de hemofilia tipo B e cujo organismo tem deficiência desse fator”, explica. Esse leite será purificado e dele retirada a fração da proteína. Essa experiência gênica já deu resultado positivo no leite de fêmeas de camundongo em um trabalho anterior, ou seja, o fator IX estava presente no leite dos espécimes transgênicos. “Quando purificado do leite e submetido a testes in vitro com o plasma de pacientes hemofílicos do Hospital de Apoio de Brasília, verificou-se a atividade do fator IX”, diz a pesquisadora. 

Os embriões modificados geneticamente com a introdução da chamada linhagem celular estão no laboratório da In Vitro Brasil, em Mogi Mirim (SP), onde serão introduzidos em vacas leiteiras. “Esse bezerro deve nascer no final deste ano”, prevê José Henrique Pontes, médico-veterinário e sócio da empresa. 
Mas, depois do nascimento do bezerro, serão necessários ainda muitos anos de testes para que o medicamento seja aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,ERT335186-18282,00.html

Vacas transgênicas produzem “leite humano”: é saudável?

Os estudos da transgenia dão um passo além da clonagem – tecnologia já utilizada no Brasil – e podem ser divididos em duas vertentes, explica Camargo. “A maior parte das experiências objetiva a produção de proteínas recombinantes (célula com nova combinação genética, não herdada dos pais) que possam ser usadas no tratamento de doenças como diabetes e hemofilia. Um exemplo de proteína recombinante é a insulina.”
“Por meio da introdução de genes específicos, é possível criar uma vaca capaz de produzir insulina no leite.Depois de extraída, a proteína poderá ser usada no controle de diabetes”, explica o pesquisador. Além disso,por meio de vacas transgênicas, a ciência será capaz de produzir leite sem lactose para pessoas alérgicas.
A transgenia pode ser ainda utilizada para melhorar a saúde do gado, tornando-o mais resistente às
enfermidades, por exemplo. Ou então fazê-lo ganhar peso mais rapidamente, no caso do boi de corte.
“Vamos fazer animais resistentes ao carrapato e à mastite, que infernizam as fazendas, reduzindo os custos de produção”, diz Camargo. Para o consumidor, além de novos medicamentos, o emprego da biotecnologia poderá trazer vantagens gastronômicas a partir da geração de animais com carne macia e saborosa.
A tecnologia é largamente utilizada na agricultura brasileira, principalmente nas lavouras de milho, soja e algodão. O país já desenvolveu também o feijão transgênico, modificando geneticamente plantas da família da leguminosa. Em mamíferos, a Universidade Estadual do Ceará produziu dois cabritos, Tinho e Camila. “A transgenia cria um organismo genético em laboratório que pode possuir genes de outras espécies em seu genoma”, diz Camargo. Em alguns países, a técnica está mais avançada. “A China criou ovelhas que produzem gordura boa para o coração. A Argentina desenvolveu uma vaca que dá leite similar ao do ser humano. A Nova Zelândia já conseguiu até clonar uma vaca transgênica no ano passado”, diz. “O Brasil está chegando lá”, diz Camargo.
Camargo informa que os estudos com a transgenia na Embrapa foram iniciados há dez anos. No caso dos dois bezerrinhos que nasceram, os embriões tiveram o código genético alterado com a incorporação de um gene de uma espécie de água-viva. Depois, os embriões foram transferidos do laboratório para um grupo de vacas da Embrapa.
“Modificamos o embrião e nele foi introduzido o que chamamos de ‘gene repórter’, cujo objetivo é levar o bezerro a expressar uma proteína fluorescente após ter nascido”, explica. Ele relata que o gene introduzido permite ao bezerro produzir bioluminescência de tom esverdeado, que poderá ser detectada no escuro usando-se um filtro de luz especial. Para Camargo, a bioluminescência abriu caminhos à ciência. É um processo biológico pelo qual animais como o vagalume e a água-viva emitem luz a partir de suas células.
Essa biotecnologia provocou revoluções na ciência, como na área da saúde.

18/10/2018 GLOBO RURAL - Notícias sobre agronegócios, agricultura, pecuária, meio ambiente e o mundo do campo 
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